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24 maio, 2011

Já nas bancas: Tobias, o assobiador!

















ilustração de Patrícia Sousa

Tobias tinha medo de tudo e de nada. Quando uma folha da árvore caía ao chão, ele dava um grito. Ao anoitecer, por exemplo, imaginava que as sombras eram monstros horríveis que o queriam comer. Se ia na rua e um cão ladrava, desatava a correr e só parava quando o coração parecia explodir de tanto bater. Era o menino mais assustado da Vila do Rio Dourado. Todos se riam dele, pois quando se aproximavam e apenas lhe tocavam no ombro, ele dava um salto e dizia “ai, que susto”. Às vezes, até lhe chamavam “Tobias, ai que susto”. Um dia, fartos desta situação, os pais resolveram ir falar com o Mago da floresta. Odem era o homem mais velho que alguma vez os habitantes daquele lugar tinham visto. Dizia-se que deveria ter mil e cem anos e a sua sabedoria permitia-lhe ter a solução para quase todos os enigmas impossíveis de resolver. Vivia numa casa de madeira, em cima do Castanheiro de folhas brancas. Ninguém percebia como é que um castanheiro poderia ter as folhas brancas, mas era a árvore mais bela que existia por aqueles sítios Era uma árvore mágica; quando alguém estava triste e se lamentava, os ramos cobriam-se de flores vermelhas – a pessoa ficava tão espantada que era difícil conter um sorriso.
Assim, naquela manhã de Primavera, Tobias foi com os pais conhecer Odem. Quando se aproximaram da árvore encantada, esta, adivinhando todos os medos do menino, encheu-se de folhas negras como a noite. Até o dia ficou mais escuro e frio. - - Que frio, murmurou Tobias, aproximando-se ainda mais do pai e da mãe. Subitamente, surgiu um velho, mesmo muito velho, que numa voz forte e meiga disse: - Que menino tão amedrontado, este! Já sabia que vinhas e por isso apressei-me em procurar a Caixa dos Medos Terríveis Há muito tempo que não a empresto a ninguém. Mas acho que esta é uma boa ocasião para o fazer. Tobias nem sabia o que pensar – estava confuso e ao mesmo tempo curioso. O que tem essa Caixa? – Perguntou. - Nesta caixa estão guardados todos os medos apanhados por meninos e meninas – respondeu-lhe Odem. - E como é que se faz para apanhar medos? É como pescar? - É parecido, mas não é a mesma coisa. De cada vez que se apanha um medo, fica-se mais forte. Mas para que isso aconteça é necessário distrair o dito Medo. - E como é que se distrai um medo? Questionou Tobias, que já começava a achar alguma piada àquela brincadeira de apanhar monstros. - Bem, cada pessoa descobre uma maneira de o fazer...por exemplo, se tu fores na rua e algum medo te aparecer à frente, tu podes dizer bem alto “Ó medo, olha o que tenho aqui no bolso”. Quando o medo olhar para o teu bolso, distrai-se; tu consegues apanhá-lo e metê-lo na Caixa. - Ah! Que engraçado! Tobias começou a rir sem parar e passados uns instantes, murmurou: - Acho que não era capaz de falar com os monstros se os visse; desatava a correr, isso é certo. O velho mago olhou para o rapaz e disse-lhe: - Pois não. Cada um tem de encontrar a sua maneira especial; geralmente o que resulta é fazer algo que gostamos muito. De olhos arregalados, o menino disse prontamente: - Como assobiar? - Sim. Mas como farias? - Já sei. Sempre que vir um medo, assobio e como o faço tão bem, ele vai com certeza ficar parado a escutar. Depois será fácil – disse cheio de convicção. Naquele momento, Odem teve a certeza que a sua solução iria dar a Tobias a coragem de que ele necessitava. Ao despedir-se dele, falou-lhe baixinho ao ouvido: - Esta Caixa Mágica irá ajudar-te a seres mais feliz. Mas, nunca te esqueças que a verdadeira força está dentro de ti. Tu serás capaz de enfrentar tudo o que quiseres, se acreditares em ti próprio. Ninguém sabe se Tobias percebeu completamente as palavras sábias do velho muito velho (afinal era apenas um menino), mas na vila o rapaz passou a ser conhecido por “Tobias, o Assobiador”.

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